sábado, 19 de junho de 2010

A PUBLICIDADE DE MARCA

Um bom anúncio é uma mensagem idealizada para promover um produto, um serviço ou uma ideia. O objectivo da maior parte da publicidade é vender produtos ou serviços. Pequenas e grandes empresas também utilizam a publicidade para criar uma "imagem" positiva perante o público.
A boa publicidade é idealizada para informar, influenciar ou persuadir as pessoas. Para ser eficiente, um anúncio deve primeiro atrair a atenção e ganhar o interesse das pessoas. Em seguida, deve fornecer razões para se comprar o produto ou usar o serviço anunciado.
A necessidade de comunicar uma existência comercial, de fazer referência a uma oferta passa por um processo comunicacional que se caracteriza por um exercício linguístico singular de natureza referencial e especificidade de comunicação. Estruturalmente é esta natureza referencial da mensagem publicitária, centrada na divulgação de uma oferta comercial que por um lado a singulariza e por outro a distingue de outros tipos de mensagens, nomeadamente as jornalísticas ou literárias.
Embora a mensagem publicitária se caracterize por este exercício linguístico de divulgação de uma realidade comercial, podem coexistir no seu seio outras práticas linguísticas de natureza conjuntural e contextual: a interacção entre estes exercícios linguísticos de natureza estrutural com os de natureza conjuntural, vai fundamentar aquilo que se designa por género publicitário.
Os diversos géneros publicitários, ou diferentes categorias de publicidade (Publicidade Informativa, de Marca, de Teasing, de Impacto e o manual Publicitário), mais não são do que a articulação entre os exercícios linguísticos de natureza conjuntural com aquele que remete para uma natureza estrutural na mensagem publicitária.
Neste sentido e seguindo o modelo comunicacional proposto por Roman Jackobson (a cada um dos elementos seis elementos fundamentais no processo de comunicação: Destinador, Contexto, Mensagem, Canal, Código, Destinatário, corresponde respectivamente a uma função da linguagem: Emotiva, Referencial, Poética, Fática, Metalinguística, Conativa), pretendemos perceber nos anúncios seguintes a predominância conjuntural da função emotiva, dentro do género da Publicidade de Marca.
Esta caracteriza-se por ser um exercício linguístico que afirma uma determinada subjectividade: a presença do destinador na mensagem. Esta afirmação passa por expressar uma emotividade e incluir na mensagem publicitária cargas líricas, metafóricas e hiperbólicas.


Parte I - A Publicidade de Marca: Predomínio conjuntural da função emotiva

A Publicidade de Marca resulta da interacção de uma função estruturalmente dominante, a função referencial, com uma função conjunturalmente dominante, a função emotiva. Neste género publicitário existe um grande nível de subjectividade que pode remeter para um lirismo, na medida em que há uma grande afirmação do destinador na mensagem referencial de natureza comercial.
O processo de comunicação publicitário tem características próprias, específicas, mas não traduz as condições subjacentes ao processo publicitário. Deste modo, surge a necessidade de dissociar, no âmbito do destinador, duas entidades: uma entidade de natureza institucional que remete para o anunciante ou para a fonte, e uma entidade de natureza comunicacional que remete para o emissor ou para o criativo publicitário.
Assim, surgem dois tipos de exercícios linguísticos baseados numa subjectividade. O primeiro está associado a uma subjectividade de natureza criativa em que notamos uma exploração da criatividade do autor e o segundo numa subjectividade de valores de natureza comercial/económica.
No primeiro exercício, são os próprios signos da publicidade que apontam para uma identidade criativa. Os signos referentes àquilo que se pretende publicitar apresentam uma dimensão secundária, isto é, desvalorizada num manifesto publicitário.
O destinador/sujeito criativo também pode ser indirectamente invocado através de um lirismo específico caracterizado por um conjunto de atitudes relativamente a contextos que medem a realidade comercial e que a enquadram.
O modo do enquadramento remete para os valores estritamente comunicacionais na medida em que os objectos remetem para a imagem de marca.
Quando o exercício linguístico remete para a fonte/anunciante o produto tende a centrar-se, o predomínio é comercial e institucional. Quando o exercício linguístico remete para o emissor significa que este fica valorizado relativamente aquilo que se quer publicitar.

O headline do anúncio I (ver anexos) “Aos olhos dele uma corrida nunca acaba. Eukanuba dá ao seu corpo a mesma convicção.” é um exemplo do predomínio conjuntural da função emotiva que, neste caso, produz uma emotividade no destinatário. A fonte (que neste anúncio se confunde com a marca – Eukanuba) está presente directamente nos signos de ordem verbal, mas a mensagem que esta quer transmitir ao destinatário é que é relevante, pois tem a intenção de provocar uma emotividade. Os signos suportados por palavras são amparados pela matéria expressiva de ordem iconográfica que produz um estímulo programado com a intenção provocar uma reacção no destinatário.
No anúncio II (ver anexos) é visível o predomínio conjuntural da função emotiva através dos signos suportados por imagens. Através de uma primeira análise tentamos perceber quais os signos relacionados com a questão da produção (produto), da beleza e do papel social da mulher. Nesta perspectiva, a emotividade remete para o emissor na medida em que existe um contexto que enquadra a oferta. A actriz incorpora o produto mas, fundamentalmente, remete para o contexto. Em contrapartida, ao complementarmos a imagem com a informação dada pelo texto, podemos ver que há uma objectivação da imagem. O texto remete para a funcionalidade daquilo que é publicitado. O facto do texto transmitir as características técnicas (“Só NIVEA Visage anti-rugas Q10 Plus reactiva a capacidade de reparação das rugas natural da pele, com o poder conjunto dos dois Co-Enzimas naturais da pele: Q10 e R.”) e exclusividade do produto (“Existem muitas causas para as rugas. Mas só existe um Q10 Plus”) faz recair a emotividade no destinatário. A palavra objectiva um conjunto de atributos que remete para a esfera do consumo. O destinatário revê-se na actriz.

Parte II – Atributo Subjacente à Marca: inerente ao emissor, ao anunciante e ao destinatário

Na Publicidade de Marca, procura-se dar a conhecer a atitude do destinador ou fonte da mensagem publicitária (ou de um actor seu representante), que podem oscilar entre atitudes de carácter triunfalista (atitudes eufóricas inerentes à apresentação de uma oferta) ou frustração (atitudes disfóricas que remetem para situações de infelicidade inerentes ao protagonismo de problemas associados à ausência ou carência de produtos), relativamente à existência comercial. Este exercício linguístico subjectivo centrado na fonte possui um carácter especificamente institucional.
Mas se recordarmos o facto de no destinador da mensagem publicitária podermos distinguir entre fonte (anunciante) e emissor (criativo publicitário), então é possível entender neste género publicitário, uma outra ordem já não de carácter institucional, mas sim de âmbito comunicacional, porque centrada no emissor da mensagem.

A subjectivação remete para a afirmação de um eu. Complementarmente, podemos pensar numa personificação da marca (que ganha características subjectivas próprias dos humanos). Há duas situações permitidas: uma atribuição das características do objecto e uma efabulação do objecto. O produto adquire uma característica humana (uma subjectividade), transformando-se numa marca. A designação comercial pode ter três tipos de subjectividade: uma subjectividade do anunciante ou fonte, uma subjectividade do emissor e uma subjectividade do destinatário. Relativamente à emotividade inerente ao destinatário, o produto personaliza-se de tal forma que reflecte o próprio destinatário.
De acordo com George Peninou a Marca está entre dois pólos distintos: o pólo da monstruosidade e o pólo do granel. O primeiro é de tal modo singular que não pode ser nomeado, ou seja, escapa à classificação. O segundo é indiferenciado pois o produto tem uma designação comum. Deste modo, é produto de uma demarcação resulta de um poder simbólico do qual nós estabelecemos fronteiras. Esta demarcação tem por objectivo produzir efeitos: espanto, fascínio ou sentimento de repulsa. Nesta medida, esta classificação pressupõe sempre uma subjectivação.
Há marcas cuja subjectividade é do anunciante, do emissor ou do destinatário.
A imagem de marca está relacionada com a atribuição da monstruosidade, com o universo dos atributos, dos predicados subjectivos que o produto reúne. É a personalidade/carácter do produto. A imagem de marca é o resultado de uma transformação: passagem do Ser para o Valor. A Marca tem uma psicologia, uma história.
O headline do anúncio III (ver anexos) é composto por um predicado subjectivo inerente ao universo dos atributos do produto (“UM WHISKY COM ALMA MERECE UM CORPO ÚNICO”). O produto adquire atributos e características que são próprias do Homem, nomeadamente a alma. Estas reflectem todo o seu valor como entidade comercial. A sua existência é glorificada, como se o produto estivesse num pedestal.
Ainda como exemplo das características anteriormente referidas temos o anúncio IIIa (ver anexos) no qual o calçado apresentado possui uma característica humana (animal): o acto de respirar.


Parte III – Publicidade Informativa

A Publicidade Informativa caracteriza-se pela exibição do produto. O produto impõe-se no destinatário como objecto. Este género publicitário caracteriza-se por duas vertentes: a vertente da apresentação e a vertente da qualificação.
Na vertente da apresentação a existência ou a divulgação do produto impõe-se através de um acto de apresentação. Aqui o exercício linguístico insiste totalmente no produto. A publicidade informativa de apresentação está delimitada em duas categorias: a ostensão e a auto apresentação. A ostensão pretende mostrar algo ou qualquer gesto que o designa e implica sempre a presença de um actor. A exibição é composta por três classes: a publicidade por designação, a publicidade por exibição e a publicidade por aparição.
Na vertente da qualificação não existe apenas uma mera apresentação mas também a atribuição de um carácter. A divulgação desenvolve-se não só pela apresentação mas também pela atribuição de um conjunto de características. Nesta vertente, o exercício linguístico reporta-se a qualidades subjectivas inerentes à fonte, ao emissor e ao destinatário, que são emprestadas ao produto no âmbito da apresentação.
No que diz respeito ao Código da Gestualidade da Apresentação existem dois tipos de códigos: os códigos inerentes ao apresentador e os códigos inerentes ao produto que se apresenta. Relativamente à primeira categoria dispomos de três classes de códigos. No código gestual o apresentador não gesticula ao acaso, mas pensa na sua postura. Na classe proxémica não há movimento. A distância do apresentador/produto é regulada. Na classe da pose é o enquadramento que determina o anúncio. A relevância é dada aos signos iconográficos que vão determinar a apresentação.

Em relação aos códigos inerentes ao produto exibido temos:
- Número: o produto é sempre singular.
- Integridade: centra-se na pluralidade integral ou não integral. O produto é apresentado não na sua totalidade ou reduzido à sua parte.
- Destaque: o produto é apresentado em relevo e em três dimensões.
- Dimensão: relacionado com o tamanho exagerado do signo iconográfico, na medida em que há uma exploração exagerada do tamanho.

Dentro da Publicidade informativa cabe-nos analisar dois anúncios: um em que a função conjunturalmente predominante é a função referencial (anúncio IV) e outro em que seja evidente a vertente da apresentação (anúncio V).
Relativamente ao anúncio IV (ver anexos) a função conjunturalmente predominante é a referencial na medida em que aquilo que é anunciado é a fonte e, simultaneamente, a marca – Reebok. A única coisa que se impõe é o próprio produto que remete para a marca e a fonte.
No anúncio V (ver anexos) o produto é apresentado num primeiro plano, sem que exista um trabalho de profundidade de destaque, relativamente ao enquadramento do produto. Aquilo que é anunciado ocupa o campo de visão daquele que visiona o anúncio. O facto da cor utilizada no cenário do anúncio ser a mesma do carro permite que o olhar do destinatário não se perca e se centre no objecto. Assim, a primeira coisa que prende o destinador é aquilo que se pretende anunciar. A vertente da apresentação torna-se clara pois aquilo que dar a conhecer é o próprio carro.


Conclusão

A estrutura referencial é a marca distintiva do exercício linguístico que é a base do processo de comunicação publicitário: remete sempre para a apresentação ou identificação de uma oferta comercial. Por outro lado, este tipo de exercícios linguísticos, pelas suas características específicas cria mensagens com uma singularidade própria que permite a sua identificação como processo comunicacional publicitário.
O género publicitário define-se a partir da interacção entre elementos estrutural e conjunturalmente predominantes na mensagem publicitária. Procuramos ver nas mensagens publicitárias veiculadas pelos anúncios anexos, a predominância de um determinado género publicitário, ancorado numa das funções linguísticas definidas por Jackobson.

Bibliografia


Cães e Companhia. Lisboa, Editorial Grupo V, Março 2003 (82).

Máxima; Lisboa, Abril de 2004 (187).

Lux Woman; Lisboa, Media Capital Edições, Março de 2004 (36).

“Revista Única”; in: Expresso. Lisboa, Editora do Expresso, 20 de Dezembro de 2003.

“Revista Única”; in: Expresso. Lisboa, Editora do Expresso, 13 de Março de 2004 (1637)

Telva. Espanha, Abril de 2004 (780).

Iconografia

Eukanuba [Ração cães - olhar]. s.l., Eukanuba 2004

Geox[Geox Respira] s.l., Geox 2004

Grants [Grant’s Premium 12 anos]. s.l., Logan 2004

Nívea Visage [Anti-rugas Q10 Plus]. s.l., Nívea, 2004

Reebok [Ténis vermelho]. s.l., Reebok 2004

Toyota [Avensis: executivo do ano]. s.l., Toyota 2004

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