sábado, 19 de junho de 2010

FOTOGRAFIA

“Fotografar é conservar no espírito uma imagem precisa de alguma coisa”

in Dicionário Enciclopédico, Koogan Larouse Selecções


O presente trabalho será elaborado no âmbito da disciplina de Fotografia do curso Ciências da Comunicação e pretende abordar temas relacionados com a fotografia e a arte.
Na primeira parte o meu estudo irá ser orientado por um texto de referência de Walter Benjamin – A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. Nele Benjamin, pensador alemão ligado à Escola de Frankfurt, reflecte sobre o sistema artístico tradicional do século XX.
O facto da obra ter sido publicada originalmente em 1936, justifica a abordagem dos temas relacionados com a fotografia e com cinema, pois constituem as novas tecnologias da época.
A questão central neste ensaio pode ser identificada como uma preocupação constante com as mudanças na forma de percepcionar o mundo, consequência do desenvolvimento tecnológico. Benjamin avalia os efeitos da produção, do consumo de massa e da tecnologia moderna, o estatuto da obra de arte, assim como as suas implicações às formas de arte e de cultura do seu tempo.
De acordo com o autor a obra de arte possui uma aura, isto é, um aqui e um agora, devido à sua original imersão em rituais e em cerimónias religiosas. Esta aura certifica a sua autoridade e a sua exclusividade, a sua singularidade no tempo e no espaço.
A obra de arte adquiriu a função de ritual, no seio de práticas religiosas. Assim, a sua aura está associada à religião até ao Renascimento. Foi durante este período que se iniciou a luta pela autonomia artística em que se tentava provar que a obra de arte tinha o direito de ser única, independente de qualquer consideração religiosa.
Esta ideia reforçou-se durante o dadaísmo, o movimento da arte pela arte, em meados do século XIX. Este movimento reagiu acerca do despontar da industrialização capitalista e da comercialização da cultura e as ameaças que representavam à obra de arte.
Os efeitos da reprodutibilidade técnica preocuparam Benjamin. O primeiro exemplo apresentado no texto é a fotografia na medida em que permite uma grande variedade de cópias.
A técnica da reprodução substitui a existência única da obra, através de cópias, aproximando-se do espectador.
O facto da reprodução parecer ganhar uma vida própria em relação à obra original remete-nos para o conceito de reificação. A reificação ocorre quando os significados se autonomizam e a sua dimensão subjectiva é esquecida O cinema e a fotografia mostram coisas que talvez nunca teríamos percebido, alteram a nossa maneira de ver o mundo. São uma espécie de “segundo olhos”.
Entre aquilo que o autor de uma fotografia pretende transmitir e aquilo que é percepcionado pelo espectador, a diferença pode ser abismal. Mas há que ter também a noção que muitas vezes o fotógrafo não tem o intuito de passar mensagem nenhuma. Apenas fotografa por gosto, sem que o conteúdo da imagem tenha sido planeado. A tendência actual é tentarmos sempre atribuir uma mensagem aquilo que vemos, sem pensarmos que estamos perante uma simples fotografia que registou o real naquele momento e que o fotógrafo registou só por registar.
Para além de modificar o modo de percepcionar o mundo, a reprodutibilidade técnica permite abrir caminho para a uma nova forma de cultura: a indústria cultural. A obra de arte pode ter perdido a sua autonomia mas tornou-se mais acessível a um maior número de pessoas. O seu valor de ritual tornou-se agora valor de exibição.


A questão da Reificação

Durante o ensaio de Benjamin encontramos alguns elementos que se referem à questão da reificação. O termo propriamente dito surgiu já após a sua morte, depois da década de 40.
Todo o homem é um agente social pois está inserido no seio de uma determinada comunidade, atribuindo sempre um significado ao mundo. Uma sociedade implica a existência de uma determinada cultura e, a cultura, não é mais de que a partilha generalizada de significados. Podemos dizer que numa sociedade, os agentes sociais de que dela fazem parte, bebem os mesmos valores e transmitem-nos às gerações vindouras.
As culturas já existem antes de vivermos nelas, mas só existem porque as partilhamos. Mas como é que se transmite uma cultura sem a existência humana? A resposta reside no facto da cultura se tornar autónoma relativamente ao seu criador. A técnica é criada pelo homem para que este se possa servir dela mas, de certa forma, é a técnica que acaba por tomar conta de nós.
O desenvolvimento tecnológico e científico apoderou-se da maioria das sociedades. Cada vez mais o Homem é fascinado e dependente da ideia de progresso. É este fascínio que permite ao Homem imaginar o futuro e é a partir da criatividade que a ciência e a tecnologia vai evoluindo, maravilhando o homem. O seu avanço contínuo faz do Homem um escravo na medida em que este sente necessidade em possuir as mais recentes inovações, aquilo a que chamamos de tecnologia de ponta.
A tecnologia permite novas formas de percepção do mundo. Cada vez que há um desenvolvimento, a nossa maneira de ver e de sentir o mundo muda. A fotografia não existe desde sempre, teve de ser inventada, como tudo. A técnica fotográfica alterou a maneira do homem contemplar e sentir a realidade. Da mesma maneira que o homem tem de acompanhar este desenvolvimento tecnológico, a arte e os procedimento comunicacionais também o devem fazer.
A reificação acontece quando os produtos da actividade humana ganham vida própria. Todos os significados e os utensílios que o homem cria, acabam por se reificar, independentemente da vontade de quem os criou. Quando se dá a reificação os significados autonomizam-se de tal modo que a sua dimensão subjectiva é esquecida. O significado primitivo das coisas desaparece, dando origem a um outro.


A Destruição da Aura e a Reprodutibilidade Técnica

Marx, ao estudar o modo capitalista de produção, previu o futuro do capitalismo, o seu estudo visou sobretudo a evolução da arte no seu contexto industrial. Benjamin refere que as teses de Marx afastam conceitos tradicionais como criatividade e génio, validade eterna e estilo, forma e conteúdo, conceitos importantes e que são tratados neste ensaio.
De acordo com o Walter Benjamin sempre foi possível reproduzir as obras de arte. Desde a antiguidade, e durante centenas de anos, a criação de objectos de arte esteve intimamente ligada à questão da imitação. O artista imitava a realidade, principalmente a natureza, através do gesto de pintar. Os melhores artistas eram aqueles que reproduziam fielmente as características do objecto representado. A obra de arte foi sempre reprodutível na medida em que as acções do homem poderiam ser imitadas por outros homens.
Embora a maioria das obras de arte serem produzidas por encomenda, não eram feitas com o objectivo principal de serem comercializadas. Com o desenvolvimento da técnica, esta situação modificou-se. O gesto de pintar entra em crise e passa a ser possível a criação rápida e em grande quantidade de reproduções fiéis das coisas e das próprias obras de arte. Deste modo, as obras de arte passam a ser simples mercadorias, objectos para serem consumidos e não para serem apreciados.
Para Benjamin, a principal característica da obra de arte é a aura que ela possui. A aura é o aqui e o agora da obra de arte. É a absoluta singularidade de algo (de um ser natural ou de um ser artístico). Ela nos é dada pela condição de um exemplar único que se oferece aqui e agora e que não se pode repetir. A aura possui uma qualidade de eternidade e de fugacidade em simultâneo.
O facto da obra de arte estar inserida num contexto faz com que a sua participação na tradição lhe atribui um sentido, ou seja, a sua autenticidade. Mas, mesmo com a mais perfeita técnica de reprodução, a autenticidade da obra de arte perde-se.
Por mais que se tente, o momento da criação da obra de arte não pode ser retomado. É como se a reprodução da obra de arte ganhasse uma nova vida, independente da existência da obra original. O aqui e o agora deixam de existir e a aura da obra de arte extingue-se. A reprodução elimina o carácter único da obra de arte, isto é, a sua característica fundamental.
Se pela técnica podemos reproduzir obras de arte, ela constitui um ataque destrutivo à própria aura. Recorrendo aos exemplos da fotografia e do cinema, podemos ver que se torna impossível distinguir entre o original e a cópia, isto é, desfaz as próprias ideias de original e cópia.
Aquilo que é autêntico é o verdadeiro e o que é reproduzido é considerado uma falsificação. A recriação e a imitação não alteram a obra de arte mas a sua autenticidade, fazendo perder o fim primário. O fim primário é alterado, alterando deste modo, o seu significado original.
O facto da aura da obra de arte se perder com a reprodução técnica implica alterações da percepção já que a aura nos permite captar algo excepcional de uma coisa longínqua por mais perto que essa coisa esteja.
A reprodutibilidade da obra de arte tem como finalidade aproximar as coisas do ser humano, dando solução ao desassossego das massas modernas em possuir os objectos.
A unicidade da obra está relacionada com o ritual, com a tradição. As produções artísticas estavam relacionadas com a magia e com a religião. As obras de arte mais antigas possuíam uma conexão a rituais religiosos e mágicos.
Inicialmente, a obra de arte possuía um valor mágico, de culto, de contemplação e só mais tarde era reconhecida como um objecto de arte. O próprio homem e o meio onde se encontrava constituíam os temas mais frequentes dos objectos de arte da pré-história. Estes eram criados de acordo com as exigências da comunidade. Esta técnica fundia-se totalmente com o ritual. Citando o autor, esta técnica emancipada confronta-se com a sociedade moderna sob a forma de uma segunda natureza, não menos elementar que a sociedade primitiva, como provam as guerras e as crises económicas[1]. Esta segunda natureza é produto do homem, embora este já não tenha a capacidade para a controlar. Já ganhou vida própria, autonomizando-se do seu criador.
O desenvolvimento da técnica possibilitou a reprodução em série da obra de arte. Com isto, o valor de culto (a contemplação), ligado à aura da obra de arte, é substituído pelo valor de exposição. Assim, a exibição da obra cresce pela sua reprodução.
O cinema não é mais do que um conjunto de fotografias. Neste tipo de comunicação a tecnologia utilizada no cinema é essencialmente fotográfica já que o filme é composto por uma sequência de imagens.
No texto Fotografia e Modernidade do Professor Frederico Lopes, a fotografia constitui algo de muito importante na comunicação de massa precisamente porque é algo que está na base do cinema e da televisão. A técnica fotográfica evoluiu de tal modo que lançou o homem e o mundo numa revolução tecnológica nunca vista, desligando o mundo das lembranças que residiam única e exclusivamente na mente dos saudosos. Com a fotografia e consequentemente com o cinema, a nossa mente não esquece as características visíveis de uma imagem. Aquilo que vemos é aquilo que está na imagem, os conteúdos. Aquilo que interpretamos é fruto da percepção de cada um, não correspondendo necessariamente à realidade.
A sétima arte tem um papel fundamental na sociedade pois treina o espectador na busca de novas realidades e novas reacções[2]. O cinema é para Benjamin o gigantesco aparelho técnico do nosso tempo, o objecto das enervações humanas.
Graças ao desenvolvimento da técnica, as obras de arte são produzidas em massa. O carácter artístico de um filme é, em grande parte, determinado pela sua reprodutibilidade. A obra de arte passa a ter uma característica fundamental: a perfectibilidade. O filme é executado a partir da escolha e da montagem de imagens isoladas; é uma sequência ordenada de imagens. Cada imagem é a reprodução de um acontecimento.
O acontecimento não é a obra de arte, nem ao ser filmado. No cinema, a obra de arte surge através da montagem. O filme é, para o autor, a obra de arte mais perfeita. As imagens podem ser corrigidas sempre que se desejar. Esta perfectibilidade corta com os valores eternos dos gregos. A arte grega tinha em vista a criação de valores eternos. As esculturas eram feitas a partir de um só bloco. As imagens de um filme podem ser corrigidas e alteradas a qualquer momento e novamente montadas no mesmo filme.
Num filme, o actor representa a cena para um grupo de especialistas e para um aparelho, e não directamente para o espectador da sala do cinema. É diante do aparelho que o espectador se exclui de todo o seu mundo para viver a aventura da personagem, como se fosse a sua própria aventura. Os especialistas estão aptos a intervir quando algo não está bem. É esta intervenção que determina toda a produção do filme.
Muito se discutiu sobre o valor artístico da fotografia e do cinema. O valor de culto ao ser ultrapassado pelo valor de exposição fez perder autonomia à arte. Debateu-se muito acerca de ter sido ou não a fotografia a alterar a própria arte. Mas, o aparecimento do cinema é incomparável com a fotografia.
O cinema, considerado num patamar superior em relação à fotografia, possui a dignidade da arte, contendo dados enraizados no culto. Mas, pode ter um senão: copiar o mundo exterior impede o cinema de ser arte. O seu verdadeiro sentido está na sua grande facilidade de expressão e grande capacidade de persuasão.
Após a gravação, a sequência de imagens, pode ser modificada. A realidade visionada nos ecrãs de cinema é aparentemente verdadeira. Mas, esta não é senão uma realidade postiça, pois pode ser corrigida vezes sem conta. Aquilo que é importante é que as imagens penetram nos aspectos mais profundos da realidade.
O cinema tem a capacidade de mostrar verdadeiramente a realidade, embora toda esta demonstração esteja contida na técnica, ou seja, é através da técnica que o cinema penetra profundamente no interior da realidade. O cinema é, para o homem, mais significativo que a pintura. O pintor funciona como um elemento intermediário entre a realidade e o espectador. Este descreve à sua maneira aquilo que pinta. O cinema não, pois é livre de qualquer manipulação de aparelhos na apresentação da realidade, diminuindo de forma significativa a distância do espectador da realidade.
O último suspiro da aura na estética contemporânea estava nas fotografias antigas de pessoas. Nelas se encontra o culto da saudade. A fotografia eterniza o momento em que as pessoas estiveram presentes.
Quando as fotografias não possuem a figura humana o valor de culto é ultrapassado pelo valor de exposição. A foto de uma qualquer rua sem pessoas permite que cada um contemple a imagem que lhe é dada livremente.
Mas, fotografias deste tipo, sem qualquer indicação apoquentam quem as observa. Assim, podemos dizer que o homem não quer pensar por si só. Não está habituado a pensar, mas sim que pensem por ele. Então, as imagens publicadas passam a ter obrigatoriamente uma legenda. Passa-se o mesmo no cinema, em que uma imagem é a continuação da sequência de imagens anteriores.

A Indústria Cultural

As obras de arte, cada vez mais submetidas às regras do mercado capitalista e à ideologia cultural, são como que uma espécie de mercadoria, reproduzidas em série para o consumo generalizado das massas.
A fotografia pode ser reproduzida ou objecto de cópia através de um processo mecânico a baixo preço. As obras de arte únicas e exclusivas deixaram de ser exclusividade dos museus e passam a estar disponíveis no mercado em grande quantidade. A arte deixou de estar ao serviço das elites para estar acessível a todos, às massas.
Saliente-se o facto do Homem ser um ser com uma vontade imensa de possuir objectos, mesmo que esses não sejam originais. É claro que quando possuímos algo que é único e que mais ninguém tem, nos sentimos privilegiados e isso aumenta a nossa estima, tornando-nos até um pouco vaidosos. Mas quando não temos o original é fácil obtermos uma imitação. Tanto melhor se essa imitação for semelhante em tudo ao original. Essa imitação reproduzida é como se fosse verdadeira.
Apesar dos objectos de arte existirem para serem expostos, contemplados, tornam-se algo para ser consumido, de acordo com o controlo económico e ideológico das empresas de produção artística.
A indústria cultural impede a formação de indivíduos autónomos e independentes, capazes de pensar por si próprios, de julgar e de decidir de modo consciente. O consumidor contenta-se com aquilo que a indústria cultural lhe dá. Esta organiza-se para que o consumidor compreenda a sua condição de simples consumidor. É a indústria cultural que instaura a dominação natural e ideológica. Esta caracteriza-se pela ânsia de progresso técnico e científico, tão bem controlado pela indústria cultural.
Já na década de 30, Benjamin deixa claro que nem tudo está bem relativamente ao progresso da indústria. O objectivo do mercado é produzir e principalmente vender, sendo capaz de levar ao extremo a reprodutibilidade técnica das imagens.
A técnica moderna apontava para uma arriscada apropriação estética da política. Por sua vez a arte deveria dar uma resposta política. Benjamin tinha esperança de que a fotografia e o cinema se inseriam nessa resposta. Viu nos movimentos vanguardistas nomeadamente no dadaísmo, no cubismo, no futurismo e no surrealismo, um plano opcional para transformar, por processos e por efeitos paralelos aos da técnica, não apenas a produção e a recepção da obra, mas também o gesto artístico, transformando-o em choque.
Benjamin refere esta tentativa como o assegurar duma distracção imensa, colocando a obra de arte no centro de um escândalo público[3]. Só a efectiva penetração da técnica na obra, como no cinema, podia provocar o verdadeiro choque.
Mas, a vanguarda demonstrou-se insuficiente para resolver a penetração da realidade com aparelhagem. Segundo Benjamin, a recepção táctil ordena uma necessidade de adaptação a novas tarefas expostas pelo aparelho de recepção do homem. Estas não têm solução através de meios visuais. Através dos afectos, o homem alcança aquilo que o autor designa por recepção de diversão que permitia fazer coincidir, como no cinema, as atitudes críticas e de fruição.
A arte deixa de ter um reconhecimento tradicional de contemplação, e na perspectiva de Benjamin, passa a ser uma espécie de jogo de comportamento social. O homem era transformado numa espécie de examinador distraído. Via aquilo que lhe era proporcionado pelo cinema e pela fotografia, limitando-se somente a ver.
Embora o autor se contente com o facto da aceitação das massas em relação ao cinema e à fotografia, vê um indício de crise nas pretensões que a pintura revela para alterar, como o cinema e a fotografia.
Também a pintura modifica as suas condições de recepção e, da mesma forma, dirige-se às massas. O lugar da pintura seria, na sua essência, o de um aqui e um agora, algo que não é compatível com a reprodutibilidade técnica e a apropriação pela massa. Deste modo, a posição do pintor estaria destinada a um vazio irrevogável.


Parte II

Fotografia e Arte

Definir a arte não é fácil. Podemos defini-la como o conjunto de preceitos ou regras para bem dizer ou fazer qualquer coisa. Arte pode ser entendida como faculdade, talento ou habilidade[4].
Não há uma só arte. Há diferentes artes. As artes exprimem o sentimento estético, como acontece, por exemplo na arquitectura, na escultura, na pintura, na música, na poesia, no teatro, na fotografia ou no cinema.
Existe uma hierarquia das artes cuja justificação se baseia na antiguidade dessas manifestações artísticas e na dependência das posteriores nas anteriores. Nesta acepção, a Música é considerada a primeira arte, a Dança a segunda, a Plástica Bidimensional (que inclui o Desenho e a Pintura) a terceira, a Plástica Tridimensional (a Escultura) a quarta arte. A quinta arte é para muitos o Teatro mas para outros é a Literatura. A sexta arte é a Literatura embora para outros seja o Teatro[5].
O cinema já é trivialmente chamado de sétima arte e a fotografia é considerada a oitava arte. Mas se as diversas artes que já referi estão hierarquicamente ordenadas pela sua “invenção”, pelo momento do seu surgimento não seria mais correcto chamarmos de sétima arte à fotografia e oitava arte ao cinema? Interrogo-me sobre este assunto porque o cinema só surgiu depois da invenção da fotografia e as técnicas que utiliza são basicamente as mesmas técnicas da fotografia, embora alie outras técnicas, que lhe dão uma configuração completamente diferente.
Uma das justificações para que o cinema esteja num patamar superior à fotografia reside no facto da fotografia ter tido um desenvolvimento mais lento que o cinema. O cinema para além de recorrer à técnica fotográfica, alia-lhe som e movimento. É, deste modo, uma arte dinâmica porque implica movimento e simultaneamente estática porque a podemos reunir num corpo imóvel, numa matéria estática, num dispositivo de armazenamento. Por exemplo, é possível separar uma determinada parte de um filme. Aquilo que vamos obter é um quadro estático onde o comum seria apresentarmos um conjunto de quadros dinâmicos (que seria o próprio filme, a animação).
Dentro das várias artes há uma vertente que retrata de qualquer forma, alterada ou distorcidamente, coisas perceptíveis no mundo visível. A esta forma de arte chamamos arte figurativa.
A arte é uma forma indirecta de comunicação porque não exige que o criador da obra de arte esteja presente aquando da exposição dessa mesma obra. A comunicação directa pressupõe a existência de um destinador que transmite a mensagem através de um canal para um destinatário.
O facto das obras de arte poderem ser contempladas num momento longínquo ao momento da sua criação faz com que transmitam de forma não imediata as emoções e os sentimentos do seu criador. No momento da criação o artista está a exprimir as suas emoções mas o público só vê a materialização dessas emoções mais tarde, quando a obra está concluída e exposta.
Toda a obra de arte possui um determinado conteúdo emotivo do seu criador. Neste sentido a arte é uma maneira de materializar as emoções, aquilo que o artista sente. No artista, a inspiração pode ser uma vontade enorme de concretização de algo que surge do nada. Isto não significa que a ideia que teve seja materializada no momento. É o fotógrafo quem decide o momento em que a sua ideia, essa “inspiração” se concretiza. Pode demorar segundos como dias, meses ou anos.
Mas não nos podemos esquecer que nem sempre as fotografias nascem da inspiração do seu autor. Nada impede o fotógrafo de fotografar por fotografar, de registar por registar, sem que tenha pensado ou projectado isso antes. Nestes momentos o artista até pode fotografar algo banal, sem querer passar alguma mensagem. As pessoas é que têm tendência a fazer interpretações de acordo com as suas vivências, sem pensarem na hipótese de que estão somente defronte de uma fotografia que vale por si só. Mas há imagens em que percebemos que efectivamente o artista pretende transmitir uma mensagem.
Por exemplo, se olharmos para um pôr-do-sol fotografado percebemos que essa imagem, no momento em que foi captada, teve alguma importância para o fotógrafo. Talvez (e sempre no campo das hipóteses, porque nem sempre a mensagem que interpretamos é aquela que o autor pretende transmitir) o fotógrafo quisesse mostrar o momento belo que é um pôr-do-sol.
O homem é por natureza um ser social na medida em que se encontra sempre inserido numa determinada sociedade. A existência de diferentes sociedades pressupõe a existência de diferentes culturas. É dentro dessas culturas que surgem diferentes formas de arte. A criação artística é sempre fruto da vivência do homem enquanto agente social.
À semelhança daquilo que acontecia nos primórdios da existência humana, em que o homem tentava “reter” a realidade nas paredes das cavernas, o fotógrafo pretende registar o mundo que o rodeia.
As pinturas pré-históricas constituíam uma exteriorização daquilo que o homem sentia no momento, as suas aspirações, os seus medos e os seus desejos. As fotografias estão relacionadas com o sentimento obsessivo de captar o real tal e qual como ele é. As fotografias tanto mais são apreciadas se essa captação for feita de forma imaginativa e reveladora. É aqui que entra a sensibilidade e o talento do artista/fotógrafo.
As fotografias são ícones do real que vigoram nas gerações vindouras. Uma fotografia insólita pode ser representativa de um determinado contexto histórico e perpetuar no tempo como sendo um ícone simbólico desse tempo. Uma fotografia é uma espécie de testemunha documental.
Esta é uma característica única do ser humano e que o distingue de todos os outros animais. O homem demonstra aquilo que sente fazendo arte.
Desde sempre o homem sentiu necessidade em materializar aquilo que sentia. Podemos dizer que esta materialização é uma forma de mostrar aquilo que sente aos outros, perpetuando essa sensibilidade no tempo.
Porque é que o fotógrafo regista um determinado momento e não outro? Tudo depende daquilo que ele tem em mente mas fundamentalmente da sua sensibilidade, da importância que o objecto tem, da necessidade que sente em imobilizar uma determinado momento, da mensagem que quer passar.
Cada vez mais a fotografia tem um carácter interventivo em que aquilo que se pretende é chamar à atenção dos destinatários para uma determinada realidade, como acontece por exemplo, no caso do fotojornalismo.
A evolução física do homem ao longo da História foi sempre acompanhada duma evolução cultural e consequentemente das diferentes manifestações artísticas que foram surgindo. Cada vez que o homem expressa aquilo que sente está a fazer arte.
A fotografia nasce da obsessão do homem em captar o real tal como ele é. Antes do aparecimento da fotografia esta função de representação da realidade cabia aos pintores.
A fotografia foi considerada obra de arte a partir do momento em que se percebeu que o objecto fotografado deixa transparecer determinadas características que uma pintura, por mais que seja realista, pormenorizada, nunca o poderá fazer.
Se um pintor retratar um cavalo a correr, essa pintura nunca conseguirá mostrar aquilo que uma fotografia irá mostrar: o esforço dos músculos salientes do animal em movimento. Na pintura o cavalo iria parecer demasiado sossegado. Aquele que visiona a fotografia tem a percepção que existe uma continuidade ao nível dos movimentos do cavalo.
Uma fotografia funciona sempre como um registo da realidade, como uma espécie de documento. As fotografias funcionam como algo que lembre mais tarde a realidade física das coisas.
Marcus Valério, filósofo brasileiro, descontente com as definições tradicionais de arte, procurou definir a arte através da sua Filosofia Exeriana[6]. Para ele arte é uma forma indirecta ou não imediata de transmissão de emoções, em que essas emoções são materializadas.
De acordo com Carlos Pimenta[7] quando falamos em produtos culturais temos de os analisar através dos modelos internalista e externalista.[8] O primeiro modelo analisa o sistema interno da própria produção artística e o segundo analisa a obra de arte tendo em conta o contexto sócio-cultural que impulsionou a sua criação.
Neste sentido podemos dizer que a arte fotográfica é o resultado de um conjunto de técnicas internas e externas. Por um lado as manifestações artísticas não podem ser vistas de forma isolada mas através de uma continuidade nas relações artísticas que se foram estabelecendo ao longo do tempo. Existe uma corrente, uma tradição e os diferentes objectos não podem ser analisados sem ter em conta a construção que se foi feito ao longo da história.
Por outro lado a fotografia deve também ser estudada tendo em conta o contexto social e, consequentemente, de acordo com o contexto cultural em que se insere a sua produção. Uma fotografia (e todos as obras de arte) deve ser estudada tendo em conta o próprio perfil cultural, simbólico e ideológico do seu autor. É importante analisarmos o próprio contexto em que a obra se insere.
A arte funciona como um espelho que reflecte a experiência simbólica do seu autor, enquanto indivíduo inserido numa determinada cultura. Assim, uma fotografia não pode ser analisada por si própria. O estudo que a envolve nunca deve estar desligado do contexto social e cultural em que se insere. Uma cultura não é mais que a partilha generalizada de significados e valores comuns por parte dos membros de uma determinada sociedade, a arte fotográfica também o é.
O homem enquanto ser social partilha uma espécie de sensibilidade que no fundo é resultado da sua formação colectiva enquanto ser social. Clifford Geertz afirma que as obras de arte são uma forma de definição das relações sociais, de manutenção das regras e das normas sociais e de fortalecimento dos valores.
Quando o fotógrafo fotografa pretende transmitir algo. A sua fotografia é composta por um determinado número de símbolos que se associam a outros símbolos. Aquele que vai ver a fotografia vai identificar e percepcionar esses símbolos de acordo com a sua vivência, com os seus símbolos particulares e individuais numa tentativa de interpretação daquilo que visiona.
Hoje torna-se difícil imaginar o mundo sem a fotografia. Em todas as casas existe pelo menos uma máquina fotográfica, numas máquinas fotográficas mais modernas que noutras, mas que acompanham sempre o homem quando este quer captar o momento. Hoje fotografa-se por tudo e por nada. Mas isto só foi possível porque a técnica fotográfica se massificou e ficou acessível no mercado.
Quando conhecida a técnica fotográfica gerou alguma controvérsia no mundo dos pintores. Constituía uma espécie de ameaça à expressão artística da altura. Quando apareceu, a fotografia não era considerada arte na medida em alterava todo o sistema artístico da época, nomeadamente o da pintura, tanto ao nível da pintura miniaturista (dos retratos) e da pintura das paisagens.
A fotografia foi elevada a arte quando se percebeu que deixava transparecer determinados pormenores do real, algo que a pintura nunca poderia fazer.
Ao passo que a pintura era única a fotografia pode ser reproduzida vezes sem conta e existe um certo facilitarismo na sua reprodução.
Com a invenção da fotografia acabaram-se os longos dias de “estátua”, de exposição imóvel das pessoas que encomendavam um retrato seu. Como é óbvio o número de encomendas dos pintores retratistas desceu radicalmente e estes passaram a ser contra a existência da fotografia.
A fotografia não é mais do que o resultado de um processo histórico-cultural que origina uma nova forma de expressão artística. Mas não nos podemos esquecer que a fotografia não capta a realidade tal como ela é. Uma fotografia é uma representação da realidade que imobiliza imagens dessa realidade.
A fotografia tem a capacidade de reproduzir cópias da realidade, muito melhor do que as representações dos pintores. Numa fotografia o instante é “congelado”. É uma espécie de aprisionamento da realidade. Numa fotografia as coisas visíveis ficam na eternidade tal e qual como eram no momento do clique.
A fotografia não tem qualquer informação sonora e diminui a tridimensionalidade do mundo para a sua bidimensionalidade na medida em que a imagem fotográfica é apresentada numa superfície plana.
A designação fotografia significa arte de fixar numa chapa sensível, por meio da luz, a imagem dos objectos. Segundo Gubern a imagem fotográfica constitui uma fixação fotoquímica, mediante um mosaico irregular de grãos de prata sobre uma superfície suporte, de signos icónicos e estáticos que reproduzem em escala, perspectiva e gama cromática variável as aparências ópticas contidas em espaços apanhados pela objectiva durante o tempo que dura a abertura do obturador.
Para que se possa fotografar é necessário articular determinados factores: a sensibilidade da película/filme, a abertura do diafragma e a velocidade da obturação.
Se estes factores estiverem bem relacionados teremos uma boa fotografia. As fotografias funcionam como mecanismos de renovação da memória. Permitem relembrar pormenores e guardar os momentos sem nuca os esquecer.
Uma fotografia tem sempre uma história e quem as visiona tem sempre a noção que existiu um passado e um futuro da imagem fotográfica que está a ver.

Parte III

A Magia do Olhar

O objectivo de uma máquina fotográfica é orientar-se para a realidade e para a aprisionar e captar num determinado momento. Quando fotografamos algo estamos a certificar a nossa presença nesse lugar. Uma fotografia congela o momento em se fez o tique.
Ao considerarmos a fotografia uma arte visual estamos a dizer que recorre fundamentalmente à visão. Uma fotografia capta um visível, algo que é possível ver, já organizado pela mente e razão humana.
Enquanto arte, a fotografia tem um aspecto representativo, na medida em que faz uma analogia visual com a própria realidade, e um aspecto plástico em é trabalhada numa forma visual. Esta aspecto plástico está relacionado com a materialização da fotografia, com o suporte em que é apresentada.
Ao ser uma arte visual, tal como o cinema o é, a fotografia elimina as informações sonoras, gustativas, e todos os elementos não susceptíveis de serem convertidos em termos ópticos. A fotografia produz códigos de produção de sentidos. A tridimensionalidade do mundo é reduzida para a sua bidimensionalidade, ou seja, a realidade é escrita numa superfície plana. A fotografia não capta toda a realidade do cenário que fotografamos, capta partes dela, já que tem um carácter monofocal. A fotografia só capta aquilo, a realidade que o fotógrafo quer que seja aprisionada. É ele que escolhe o cenário a fotografar, o enquadramento ou se a fotografia irá ser apresentada em portrait ou em landscape.
É possível encontrar e perceber determinados aspectos da fotografia, não visíveis à primeira vista, através da ampliação da imagem fotográfica. Aquilo que é apresentado numa imagem fotográfica não é necessariamente aquilo que o nosso olhar percepciona. Uma coisa é aquilo que a câmara capta, outra coisa é que aquilo que o nosso olhar vê. E porquê? Porque somos indivíduos que embora vivamos numa sociedade em todos partilhamos os mesmos valores, somos necessariamente diferentes. As nossas diferenças verificam-se ao nível do nosso processo de formação, daquilo que nos vamos tornando enquanto seres sociais, mas ao nível individual. Cada um interpreta aquilo que vê à sua maneira. Cada um olha para aquilo que o cativa mais. É como que se o nosso olhar nos levasse a entrar naquele mundo.
Todas as fotografias que visionamos nos despertam uma espécie de sentimento. É uma espécie de processo de identificação, em que aquele que vê uma fotografia se coloca no lugar do fotografado ou no cenário apresentado. È este factor que determina se nós gostamos (apreciar simplesmente), amamos (quando achamos a fotografia extremamente bonita), se somos indiferentes (se a fotografia não nos diz nada) ou se detestamos.
A imagem é algo que está omnipresente nos nossos dias. Ao percepcionarmos o mundo captamo-lo à nossa maneira. Vamos colocando os nossos sentimentos naquilo que visionamos.
As imagens em geral, incluindo as imagens fotográficas, e todos os seus meios de produção influem em todas as dimensões da vivência do homem. Entre aquilo que um artista, neste caso o fotógrafo, quer que se perceba da sua obra e aquilo que nós, enquanto receptores, percebemos vai uma grande distância.
Por norma o nosso olhar tem tendência em enfatizar determinados pormenores, deixando por vezes de parte a mensagem principal que o artista pretende transmitir. É o próprio receptor que se perde na força das imagens. Por vezes complicamos o que é óbvio. Por exemplo numa fotografia temos tendência a interpretar toda a informação de uma maneira rápida e difusa, numa tentativa de podermos dizer que “eu entendi a mensagem que o artista pretende transmitir”. Gostamos que os outros “percebam” que temos a tão desejada sensibilidade artística. É mais difícil dizer que não percebemos qual a mensagem principal.

Percepção, Identificação e Interpretação

A percepção está relacionada com aquilo que a realidade representa. Está relacionada com o primeiro contacto que estabelecemos com a imagem ao nível dos sentidos. É a partir desse momento que o receptor vai tomar consciência do que é que trata a fotografia (ou como em qualquer outra imagem que lhe seja apresentada). A partir daquilo que se destaca na fotografia, o elemento dominante, é que o receptor vai atribuir um primeiro significado àquilo que está a ver. É feita a projecção do receptor de acordo coma sua maneira de ser e de pensar.
É importante referir que a realidade que estamos a captar não é nunca como ela é, mas é aquilo que acreditamos que ela seja, daí que não existam normas fixas e rígidas no que diz respeito à percepção.
A identificação está relacionada com aquilo que a imagem possui. Está relacionada com a articulação entre os elementos vivos, móveis e estáveis que compõem um imagem. São os elementos vivos que subjugam os restantes e os elementos móveis subjugam os estáveis
A interpretação que fazemos de uma imagem é aquilo que ela significa para nós, ou seja, é a descodificação que fazemos ao nível dos sentidos.
Hoje tudo é motivo para fotografar, até porque a evolução tecnológica permitiu, com a máquinas fotográficas digitais, uma banalização de todo o processo. Não é preciso recuarmos muito no tempo para explicarmos que as pessoas fotografavam de uma maneira mais calculista com as máquinas analógicas. Era daí que vinha a magia. Não quero dizer com isto que as máquinas digitais tiraram essa magia à fotografia. Aquilo que pretendo é dizer que as pessoas sentiam um outro entusiasmo, uma ansiedade em saber qual o resultado da revelação fotográfica. A preocupação consistia em saber se tinham ficado bem nas fotografias, se a luz era suficiente, se a fotografia ficou ou não tremida… Hoje não há este tipo de preocupações, pelo menos de uma forma tão pura. As máquinas fotográficas digitais permitem ver a fotografia no momento em que são tiradas. Se alguma coisa não for do agrado dos intervenientes, o fotografo apaga essa fotografia e tira outra. Hoje quer-se sempre a “realidade” perfeita. Não se admitem erros nem “caras feias”.
A Imagem Fotográfica e a Memória

Uma coisa é certa, a imagem fotográfica faz uma representação do passado fotografado, embora fixe esse momento no presente e para o futuro. Essa imagem é que vai ficar para sempre na nossa memória, é que nos vai fazer lembrar e que nos vai permitir contar o motivo porque foi escolhida aquela realidade para aprisionar. Uma fotografia é sempre especial porque o fotografo escolheu o momento exacto que queria fotografar. É porque esse momento foi especial para ele e quer perpetuar no tempo esse momento, quer lembrar-se sempre dele.
Quando vemos uma fotografia recordamos situações relacionadas com o seu contexto. Lembramos até, se for preciso uma dor de cabeça que tivemos nesse dia, embora essa situação não fique registada na imagem captada. Mas nós lembramos que houve de facto essa dor de cabeça.


As Cores Fotográficas

As cores na fotografia podem ser um elemento fundamental na sua interpretação. Reagimos de forma diferente quando encontramos cores que nos agradam ou não. Tudo depende do nosso estado de espírito. Por vezes a cor da fotografia e o estado de espírito podem mudar tudo. Se estiver triste e tiver a ver uma fotografia num tom nostálgico, em que o elemento “pessoa” aparece numa postura serena, eu posso interpretar que essa pessoa está triste. O mesmo acontece se for vista em espaços temporais diferentes.
Mas porque é que há a tendência para dizermos que uma fotografia a preto e branco é mais apelativa e mais profunda? A resposta é simples. É que nelas, o preto e branco esconde cores secretas que nos vão surgindo no pensamento. E não só. Se reparamos bem, surge uma infinidade de tons pretos incrível.
As cores tem uma determinada significação. Irei agora apresentar uma listagem de cores onde irei atribuir quais os significados que, de uma forma mais comum, lhes atribuímos.

- Branco: luz, paz, inocência, calma, é a cor das nuvens e da neve;
- Preto: sofrimento, dor, silêncio, respeito, tristeza, abismo, medo, é a cor da escuridão e da morte;
- Magenta: ânimo, é uma cor irrequieta, sedutora, magnética;
- Amarelo: cor cativante, que fascina, cor do ouro, incontrolada, alegre, é a cor do sol;
- Azul: inteligência, transparência, pureza, grandeza, elegância e tranquilidade;
- Vermelho: excitação, atenção, erotismo, fogo, energia, perigo, acção;
- Verde: esperança, juventude, tranquilidade, relaxamento, frescura, é a cor da natureza.


Conclusão


A fotografia foi entendida como forma de arte embora tenha surgido alguma negatividade em torno do seu valor de representação. Os pintores não viam com bons olhos a fotografia pois acreditavam que constituía uma ameaça à sua arte.
Através do exemplo da fotografia e do cinema, Walter Benjamin incide sobre o processo de reprodução mecânica da obra de arte. As obras de artes foram transformadas em mercadorias, num bem de consumo. Deste modo as obras de arte poderiam ser adquiridas por qualquer um. Se por questões monetárias o homem não pode ter uma determinada objecto artístico, poderá certamente ter uma cópia dessa obra na medida em que o seu preço é baixo e acessível.
Com este processo surge um novo tipo de cultura proporcionada pelo aparecimento da industria cultural: a cultura de massas. A reprodução mecânica, a indústria cultural, a comunicação de massas e a cultura de massas são factores que se relacionam. O aparecimento de um destes factores propiciou o surgimento de outro.
A obra de arte possui algo de mágico. A técnica da reprodução substitui a existência única da obra, através de cópias, aproximando-se do espectador. No laboratório de fotografia é possível termos uma fotografia exactamente igual a uma outra. Só temos de repetir todo o processo que fizemos quando revelamos a fotografia anterior. Mas a magia está lá na mesma, as fotografias são trabalhadas uma à uma, cada vez que as colocamos no líquido revelador acontece “magia”.
Para mim, cada imagem fotográfica que revelei no laboratório[9] é única (mesmo sendo igual à primeira). Porque é o trabalho manual do fotógrafo que vai possibilitar todo o seu processo de formação. E até porque sempre que quisermos, é possível escurecer ou clarear uma imagem. Os tons de preto e branco vão-se definindo e a imagem vai surgindo aos poucos. Para alguém que acabou de descobrir a fotografia é indescritível a primeira experiência em laboratório até porque estamos mais habituados à luz do que à escuridão. É preciso aprender a “olhar” no escuro, adequar e proporcionar o material, controlar os tempos.


Bibliografia



§ BENJAMIN, Walter – “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”; In Magia e Técnica, arte e política, São Paulo, Brasiliense, 1993.


§ Dicionário Enciclopédico, Koogan Larouse Selecções



§ Dicionário Multimédia UNIVERSAL de Língua Portuguesa, Texto Editora, 1995.


§ LOPES, Frederico – Fotografia e Modernidade, in www.bocc.ubi.pt.


§ SOUZA, Augusto Cavalcanti de – A Fotografia como informação, in www.google.com .

§ PIMENTA, Carlos - Imagens, significação e arte: uma aproximação teórica e metodológica, in www.bocc.ubi.pt

§ www.navedapalavra.com.br/fotografia

§ www.xr.pro.br/exeriana.html



[1] BENJAMIN, Walter – “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”; In Magia e Técnica, arte e política, São Paulo, Brasiliense, 1993.

2 Este assunto será desenvolvido na Parte III deste trabalho dedicado ao tema A Magia do Olhar, a ser entregue no final do mês de Maio.

[3] BENJAMIN, Walter – “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”; In Magia e Técnica, arte e política, São Paulo, Brasiliense, 1993.
[4] In Dicionário Multimédia UNIVERSAL de Língua Portuguesa, Texto Editora, 1995.

[5] A justificação desta contradição na hierarquia reside no facto de existirem autores que considerem que o Teatro depende da Literatura. Mas outros afirmam que na tradição oral, no costume de contar histórias, existe uma grande carga de representação por parte do narrador. [5]

[6] www.xr.pro.br/exeriana.html.
[7] Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Goiás e Mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás no Brasil.
[8] In www.bocc.ubi.pt – Imagens, significação e arte: uma aproximação teórica e metodológica.
[9] Laboratório de Fotografia da Universidade da Beira Interior.

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