sábado, 19 de junho de 2010

Publicidade Informativa de Auto-Apresentação

A Publicidade Informativa caracteriza-se essencialmente pela divulgação e exibição de uma existência comercial. O exercício conjunturalmente predominante deste género publicitário é o referencial. Neste género publicitário o produto ocupa a maior parte do eixo da mensagem, ou seja, ocupa grande parte do plano do anúncio publicitário, quando não o ocupa todo. O produto impõe-se por si só ao destinatário. A Publicidade Informativa possui três vertentes: a vertente da apresentação, em que há o recurso a um apresentador que dá a conhecer o objecto; a vertente da auto- apresentação onde o produto se auto- apresenta, se impõe; e, a vertente da qualificação na qual como o próprio nome indica, é feita uma qualificação do produto.
O objectivo deste relatório é apresentar quatro anúncios ilustrativos da Publicidade Informativa: o primeiro anúncio na vertente da auto-apresentação, o segundo anúncio na vertente da qualificação pelo recurso a metáforas, o terceiro anúncio na vertente de qualificação recorrendo à sinédoque e o quarto anúncio na vertente de qualificação recorrendo à metonímia.
Por fim, apresentaremos teoricamente a criação de um anúncio publicitário informativo ilustrativo da vertente de qualificação recorrendo à sinédoque onde, a propósito da existência de um automóvel, e pela relevância atribuída a um determinado pormenor, se faça a exortação do universo feminino. O produto constitui-se como entidade omnipresente. Verifica-se uma super valorização do produto.

Parte I
A Publicidade Informativa de Auto-Apresentação

Na Publicidade de auto-apresentação o produto auto apresenta-se, ocupando exclusivamente e isoladamente o plano da mensagem, isto é, ocupa a totalidade do anúncio. Esta vertente da Publicidade Informativa implica uma presença estática do objecto. Aquilo que acontece é uma simples e clara exibição do produto. O produto dá-se a conhecer a ele próprio.
A própria singularidade absoluta e a integridade total daquilo que se apresenta é auxiliada pela ausência de um contexto. Assim, o olhar do destinatário não corre o risco de se perder no cenário que hipoteticamente envolveria o objecto, mas centra-se totalmente neste. Deste modo, toda a atenção do destinatário está voltada para a apresentação do produto.
O anúncio I (ver anexos) constitui um bom exemplo de Publicidade Informativa de auto-apresentação na medida em que o telemóvel Sony Ericsson T230 da Vodafone se impõe totalmente no plano central do anúncio. Esta imposição é notória através do tamanho do produto e da sua posição frontal. O facto de não existir nada por trás do produto (ausência de campo) faz com que o olhar do destinatário não se perca e se centre totalmente no telemóvel. Assim, toda a ênfase e atenção é colocada no telemóvel. Do ponto de vista iconográfico há uma simples apresentação do produto. O modo como o telemóvel está disposto e se apresenta permite dar a conhecer mais facilmente as suas características. O headline do anúncio solidifica a auto – apresentação no sentido de mostrar uma pura designação comercial – COM A VODAFONE, AS GRANDES PAIXÔES SÂO ETERNAS. Saliente-se o facto da cor utilizada no fundo do anúncio ser a cor da Vodafone, o vermelho.

A Publicidade Informativa de Qualificação

A Publicidade Informativa de qualificação é composta por três categorias: a publicidade por metáforas, a publicidade por metonímica e a publicidade por sinédoque. Estas três categorias têm o mesmo denominador e estão subjacentes às figuras de estilo/tropos que lhe dão o nome.

§ Publicidade Informativa de Qualificação através da Metáfora

A metáfora é uma figura de estilo que consiste na transposição de uma palavra para um campo semântico a que inicialmente não pertencia. Existe uma certa associação entre as características do significado primeiro e as do segundo[1]. Numa forma mais básica podemos dizer que a metáfora é uma comparação sem o uso dos termos como e/ou parece. As metáforas na publicidade remetem para uma conotação ou para uma comparação não explícita.
Aquilo que se associa são realidades e estas passam a ser realidades comparadas. A entidade comparada que suporta as metáforas pode remeter para dois imaginários: para a esfera de produção e para a esfera do consumo. Pode ainda remeter para imaginários extra-publicitários, nomeadamente quando remete para a esfera do emissor. A metáfora tem de ser pensada a partir de valores inerentes á produção e ao consumo.
A metáfora tem uma função essencialmente fática já que produz impacto, suscitando a atenção do destinatário, através das realidades que são comparadas. As metáforas remetem para um processo de associação motivada. Esta associação é feita entre um produto que é comparado com uma realidade de comparação que é arbitrária pois desenvolve-se em nome de um objectivo que na perspectiva publicitária é comercial. Deste modo a metáfora é descodificada. O objectivo comercial é enaltecer as características do produto que se pretende anunciar. A associação e os atributos contribuem para enfatizar determinados objectivos que se pretendem comunicar de modo a que a metáfora adquira inteligibilidade.
Saliente-se o facto da metáfora impor uma interpretação unidireccional já que nela apenas se salientam os pontos em comum entre o produto comparado e a realidade que o compara.
As metáforas da imagem associam duas realidades. Assim, há uma invasão da realidade que se compara em relação ao produto que é comparado. Ambas coexistem na medida em que a realidade comparada coexiste com a realidade que a compara. No entanto, pode haver um exagero já que a realidade que compara tende a ser sobreposta à realidade comercial que compara. Na metáfora há uma super valorização da realidade que compara relativamente ao produto que é comparado. Deste modo, o destinatário percebe melhor e incorpora uma realidade na outra.
O anúncio II (ver anexos) é ilustrativo da Publicidade Informativa de qualificação através do recurso à metáfora. É feita uma associação entre duas realidades: entre um perfume de Roberto Cavali – PROFUMO – e uma mulher que está sob uma cobra. O frasco do perfume apresenta em si características intrínsecas às cobras. Ao longo da verticalidade do frasco podemos ver que a textura se assemelha ao corpo de uma cobra, nomeadamente às escamas que são uma característica importante nesta espécie animal. No topo do frasco, a tampa é ornamentada pela figura de uma cobra enrolada. Por detrás do produto deparamo-nos com uma paisagem do deserto que comporta uma mulher deitada que sustenta sobre si uma cobra. É importante referir que a mulher se encontra com um olhar e com uma postura que suscita grande dose de erotismo e de sedução. O vestido, extremamente sedutor, por ser da mesma cor que a areia, faz com que estes dois elementos se confundam. Para além do vestido, a actriz sustenta no braço esquerdo uma pulseira que também é uma cobra. A presença da mulher aliada à presença do ofídio pode remeter o destinatário para uma história bíblica em que Eva é tentada por uma serpente a comer o fruto proibido. Deste modo, a cobra é conotada como alguém que convida à tentação, ao prazer e ao pecado. Então, o perfume assume a mesma função. A mulher que o usar será também símbolo do prazer e da sedução.

§ Publicidade Informativa de Qualificação através da Sinédoque

A sinédoque é uma figura de estilo que se caracteriza por um desvio e que consiste em empregar a parte pelo todo, o singular pelo plural, o género pela espécie e a matéria pelo objecto ou vice-versa.[2] Neste tropo evoca-se a totalidade de um produto através de uma parte. É criado um imaginário á volta da totalidade do produto. O que é mais importante, e o que seguramente constitui o segredo que sustenta a qualificação da marca está patente na escolha do pormenor. Este deve ser significativo da realidade que se pretende qualificar. Se a escolha incidir num pormenor insignificante seguramente este não vai invocar a totalidade do produto pelo facto do seu valor sinedocal ser nulo. Todos aqueles que visualizassem o anúncio não se conseguiriam abstrair e, deste modo, não perceberiam que parte ou que todo estaria representado.
No anúncio III (ver anexos) o signo de natureza iconográfico apresentado – parte do prato da LA CARTUJA DE SEVILLA Série Flor de Lis – representa bem esta vertente de qualificação da Publicidade Informativa através do recurso à sinédoque. O destinatário ao visualizar apenas uma parte de um prato percebe que essa parte consegue invocar a totalidade do produto. O headline do anúncio qualifica a imagem – EL ARTE DE HACER DE LO COTIDIANO UNA OCASIÒN ESPECIAL (A arte de fazer do quotidiano um momento especial). O pormenor ao qual se dá mais importância é a ornamentação. Os efeitos decorativos são uma característica do produto.


§ Publicidade Informativa de Qualificação através da Metonímia

A metonímia é uma figura de estilo que designa uma realidade através de uma palavra ou expressão que se refere a outra realidade que com ela se relaciona objectivamente.[3] Saliente-se o facto de que nem sempre é muito nítida a diferença entre a metonímia e a sinédoque. A exploração das metonímias invoca uma presença através de algo que estabelece com a primeira invocação uma relação de contingência. Na Publicidade esta exploração implica a inscrição do anúncio numa acção, numa esfera ou numa história. Segundo George Peninou há uma invocação do produto através de uma estória (notícia). Na metonímia há uma relação de implicação ou de necessidade. Podemos dizer que no limite a Publicidade é uma fábula comercial pelo facto de ter uma moral comercial. As histórias pretendem implantar uma educação publicitária.
No entanto existem anúncios compostos por exercícios metonímicos em que não conseguimos tirar uma moral, como é o caso do anúncio IV (ver anexos). O produto/serviço – VODAFONE - é inserido numa determinada acção, é contextualizado e qualificado. A sua existência e a sua qualidade é invocada pela histórica. Assim, quando o produto está inscrito numa determinada situação tende a tornar-se num adereço e os intervenientes passam a ter o estatuto de actores e não de apresentadores. São esses actores que contextualizam e que enquadram o produto. Verifica-se uma desvalorização progressiva do produto. Este é cada vez menos valorizado e é cada vez mais eliminado da mensagem publicitária. Tende a tornar-se num adereço e pode estar excluído da história. O rapaz preso à cama com uma máscara de coelho nada tem que ver com a Vodafone. Todo o contexto do anúncio é transportado para uma cena sexual, não só a imagem apresentada mas também o headline – Estou animal/Dicas escaldantes Vodafone.
O contexto em que o anúncio se insere deixa uma história em aberto. Cabe ao destinatário imaginar aquilo que se passou e se vai passar, ou seja, implica um antes e um depois. Deste modo, e consoante aquele que visualiza o anúncio, vão surgir diferentes imaginários. O recurso a este tipo de Publicidade pode ser perigoso na medida em que os imaginários pensados pelos diferentes destinatários podem não corresponder àquilo que o destinador pretende mostrar.
Assim sendo, um dos imaginários possíveis para a história apresentada pode ser o seguinte: Era quinta-feira à noite. Joana e Manuel, um par de namorados, sem nada programado, decidem, para quebrar o ambiente pesado que se sentia, aderir ao serviço Dicas Escaldantes da Vodafone, através do telemóvel da Joana. Pouco tempo depois, ela recebe uma mensagem a dizer: “ Homem atado à cama e mulher faz strip-tease ao som de uma música pimba.” Ela acha a ideia engraçada e parte para a aventura sem que o namorado soubesse qual o conteúdo da mensagem. Como as algemas estavam enferrujadas, não abriram. A Joana deixou-as por detrás do Manuel e tirou dois lenços da gaveta para o atar à cama. Para ajudar à festa a Joana foi buscar o capuz de coelho que usara na festa da Páscoa para distribuir amêndoas e ovos de Páscoa no infantário onde trabalha. Ao tentar encontrar uma música pimba numa rádio local, a Joana consegue sintonizar Zé Cabra. Então começou a despir-se e o Manuel desata a rir.

Parte II
Criação de um anúncio informativo de qualificação recorrendo à sinédoque, que remeta para a figura feminina.

O anúncio V (ver anexos) é constituído por um headline que remete para uma mulher – BOA NAS CURVAS. Aquilo que se pretende anunciar é a existência de uma carrinha. O pormenor escolhido para representar o produto foi a roda. É como se o produto ficasse reduzido a essa roda. Essa roda é colocada num plano frontal. No seu centro contém o logotipo da Mitsubishi. A imagem apresentada é apenas uma parte do produto e a partir desta invoca a sua totalidade. Logo, estamos perante um tropo, a sinédoque.
A cor utilizada no fundo (vermelho) é a cor usada pela Mitsubishi no seu logótipo. Há uma associação entre a cor vermelha e a marca. Deste modo, o destinatário identifica mais facilmente a marca em questão. O facto de existir somente o signo objectal – pneu - faz com que o olhar não se perca noutros elementos, a atenção está toda virada para a pormenor do produto que está evidenciado (que está em representação do todo).


Conclusão

Com a realização deste relatório pretendemos perceber quais as vertentes da Publicidade Informativa, nomeadamente as vertentes da auto-apresentação e da qualificação (por metáfora, por sinédoque e por metonímia). O que mais importa na Publicidade Informativa é o facto dos exercícios linguísticos remeterem para a simples nomeação do produto e sua apresentação.
Assim, se na Publicidade Informativa é necessário a divulgação de uma existência comercial, de se nomear uma oferta (como em toda a Publicidade), a função estruturalmente e conjunturalmente dominante na mensagem é a referencial. Deste modo, aquilo que se pretende anunciar ocupa um lugar de destaque no eixo da mensagem.
Neste tipo de publicidade, o destaque vai para o produto, por um lado, pela ocupação integral que faz no anúncio publicitário, por outro, pelas associações que ao mesmo podem suscitar: incorporar no produto apresentado características de outros (ou de outras realidades), criar conotações com um todo a partir da visualização de uma parte e, até, o desaparecimento total daquele pela sua desvalorização, apenas pelo enquadramento contextual dentro de uma situação de acção que determina a sua existência.


Bibliografia

Activa; Lisboa, Abril de 2004 (161),

Máxima; Lisboa, Abril de 2004 (187).

NUNES, Carmen; OLIVEIRA, Luísa - Nova Gramática de Português, Lisboa, Didática Editora,1988.

Telva. Espanha, Abril de 2004 (780).



Iconografia


Cartuja de Sevilla [prato série Flor de Lis]. s.l., La Cartuja de Sevilla, 2004

Dicas escaldantes da Vodafone [Estou Animal]. s.l., Vodafone, 2004

Roberto Cavalli [profumo - cobra]. s.l., Roberto Cavalli, 2004

Sony Ericsson T230 [Com a Vodafone, as grandes paixões são eternas]. s.l., Vodafone, 2004.


[1] Cfr. NUNES, Carmen; OLIVEIRA, Luísa - Nova Gramática de Português, Lisboa, Didática Editora,1988, p. 224.
[2] Idem, p.226.
[3] Ibid., p.225.

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